Capítulo 02 - Artigo 01
Artigo 01

Superexposição de imagens de crianças e adolescentes

Nas mídias sociais, o cuidado com a superexposição de informações pessoais se torna cada vez mais atual. Conhecido como oversharing, o ato de compartilhar detalhes excessivos da vida privada online pode colocar em risco a segurança e a reputação de quem publica, além de expor outras pessoas sem seu consentimento.

A prática de mães, pais e responsáveis de compartilhar informações, fotos e vídeos de seus filhos em plataformas digitais, sem considerar os riscos associados, é ainda mais grave, pois podem colocar em risco as crianças e os adolescentes. Um dos principais desafios é o consentimento, uma vez que crianças pequenas não têm capacidade para autorizar a publicação de suas imagens, e mesmo crianças mais velhas podem não compreender completamente as implicações da exposição online. 

Antigamente, fotos e vídeos eram restritos ao ambiente familiar e compartilhados fisicamente, mas, com a evolução da tecnologia, especialmente após o surgimento da internet e das mídias sociais, tornou-se comum publicar essas imagens para um público muito maior e, muitas vezes, desconhecido. Esse fenômeno é popularmente chamado de sharenting — a junção das palavras “share” (compartilhar) e “parenting” (paternidade/maternidade).

A prática, no entanto, pode trazer diversos problemas, tanto para as crianças quanto para as mães, os pais e responsáveis. Ela pode resultar em danos emocionais, psicológicos e até em perigos físicos, como o aumento da vulnerabilidade a pedófilos e sequestradores, além de aumentar o risco de cibercrimes, como ciberbullying. Outro aspecto preocupante é a pegada digital de crianças e adolescentes criada por seus pais, com informações pessoais compartilhadas de forma inadvertida e que podem ser usadas para manipulação futura. Essa exposição precoce cria um rastro permanente na internet, dificultando a remoção de dados e comprometendo a privacidade a longo prazo.

É essencial que pais e responsáveis repensem a forma como expõem suas crianças na internet, priorizando a segurança e o bem-estar dos pequenos.

Estudo de Caso

Nem sempre o conteúdo de superexposição parece algo invasivo para a criança. Este é o caso do desafio intitulado “Se garante na beleza?“. A dinâmica é simples, mas perigosa: crianças enviam fotos e vídeos para perfis específicos, na esperança de serem escolhidas e ganhar popularidade online. Ao serem selecionadas, suas imagens e dados pessoais são compartilhados publicamente com milhares de seguidores, expondo-as a uma série de riscos.

Um dos mais graves perigos é a exploração sexual. As fotos dessas crianças podem cair nas mãos de pedófilos ou serem utilizadas em sites de pornografia. Além disso, a tecnologia de deepfake permite a criação de montagens falsas, mas muito realistas utilizando as imagens das crianças. Outro risco é o assédio online, com a exposição a comentários maldosos e ofensivos. Por fim, a divulgação de dados pessoais sem o consentimento das crianças ou de seus responsáveis configura uma grave violação de privacidade.

Mas por que as crianças participam desse desafio? A busca por atenção e aprovação nas mídias sociais, a pressão para se encaixar em grupos e a falta de noção dos riscos da exposição online podem ser fatores que motivam essa participação.

Recomendações do que fazer:

A recomendação geral é que os pais evitem expor seus filhos antes dos 13 anos de idade, conforme os termos de uso das próprias redes sociais. Criar perfis para crianças recém-nascidas, por exemplo, viola as regras de privacidade dessas plataformas, podendo trazer riscos futuros. O uso da internet por crianças requer supervisão contínua e orientação clara dos pais para que os benefícios sejam maximizados e os riscos minimizados. 

Antes de compartilhar fotos e vídeos  de crianças e adolescentes nas mídias sociais, responda algumas perguntas: 

  • A intenção é manter amigos e familiares informados ou apenas compartilhar um momento fofo? Entender a razão por trás da postagem ajuda a determinar qual o canal apropriado para cada conteúdo. Grupos de mensagens com familiares e uso de fotos que são deletadas depois de uma visualização podem ajudar a controlar a exposição das imagens de seus filhos.
  • A criança tem  idade suficiente para compreender que você está compartilhando sua imagem com outras pessoas? Se sim, peça sua permissão.
  • O conteúdo compartilhado pode prejudicar a criança no futuro em contextos sociais, políticos ou profissionais? Reflita sobre como o conteúdo contribuirá para a pegada digital da criança e se ela, ao crescer, ficará satisfeita com essa imagem fazendo parte de sua identidade online.
  • Não mostre o local da postagem. Incluir dados com a localização exata de onde as fotos foram tiradas, como escolas, parques ou a própria casa traz risco, pois pode expor o paradeiro da criança para pessoas mal-intencionadas.

Além disso, utilizar as ferramentas de controle parental, que veremos no capítulo 03, é fundamental para evitar riscos.